SICKO $O$ SAÚDE: UMA BREVE ANÁLISEº°°


[AUTORAS: 
Adriana Almeida & Edsamille N Braga]

O referido trabalho desenvolveu-se a partir da análise do filme Sicko $O$ Saúde, pelas autoras enquanto Assistentes Sociais que atuam no sistema de saúde brasileiro e estudantes do curso de especialização Serviço Social e Seguridade Social. O objetivo é fazer um link entre a teoria apresentada pela disciplina, a realidade apresentada no filme e os dados empíricos extraídos da atuação das autoras.
O Filme Sicko $O$ Saúde do diretor Michael Moore, indicado para o Oscar em 2008, mostra a fragilidade no funcionamento do Sistema de Saúde nos Estados Unidos da America fazendo um comparativo com a realidade de outros paises que possuem um sistema universal de saúde. Partindo de historias de vários americanos que sofreram as conseqüências de um sistema de saúde baseada no lucro acima de qualquer principio, seja humanitário ou de direito social.
A inquietação das autoras a partir da experiência profissional no sistema de saúde brasileiro, perante as demandas dos EUA, apresentadas no decorrer do filme, que mostra a historia de pessoas que acometidas dos mais diversos problemas de saúde, muitos dos quais possuindo planos de saúde, tiveram suas vidas e de seus familiares transformadas em decorrência de dívidas adquiridas para realizarem cirurgias, tratamentos e acesso a medicamentos. Bem como, outros “cidadãos”, devido recusa dos seus planos de saúde para acesso aos tratamentos necessários, vieram a óbito destruindo sonhos e fragmentando famílias. 
No decorrer deste trabalho, será abordado um breve apanhado das textos indicados para esta temática, analise de fatos apresentados no filme, relatos da realidade do sistema de saúde brasileiro e, por fim, as considerações finais.



O Estado no seu papel de reprodução social do capital na realidade neoliberal acaba sendo desresponsabilizado pelas seqüelas das questões sociais criando uma cultura de aceitação e auto-culpa da população, desarticulando os movimentos sociais por direitos universais.Tal realidade pode ser constatada no filme onde o próprio autor demonstrou dificuldade para compreender a possibilidade de uma saúde pública universal já que o seu pais (EUA)  rico e poderoso não o fazia, só após conhecer e vivenciar a realidade dos outros países sua  visão de mundo foi transformada.
Ainda nesta lógica, segundo Behring, 2009, o grande capital a partir de um suporte ideológico transforma as “...relações entre homens em relação entre coisas, que oculta a natureza dos processos econômicos e sociais de dominação e exploração entre indivíduos, grupos e classes sociais.” Aprofundando alienação e um processo de convencimento de que é inevitável a adaptação a nova ordem neoliberal.
Deste modo, a garantia de diretos sem a adequação do espaço físico, sem capacitação de todo corpo de funcionários e salários insatisfatórios que ocasiona desgaste físico e mental para os funcionários, realidade vivida no Sistema Único de Saúde brasileiro o que o diferencia da saúde pública na França mostrada no filme, no trecho em que um medico trabalhando exclusivamente na rede pública, com bons salários e condições de trabalho satisfatória, garante um serviço de qualidade em consonância a satisfação do profissional.
 “as tentativas de reverter este quadro de políticas publicas mais inclusivas e com aumento da capacidade estatal de regulação do mercado e redistribuição de renda têm sido vistas como ameaças a frágil democracia institucional”. (Sonia Fleur, 2010, pg 62)

O sistema capitalista direciona cotidianamente os indivíduos, instituições  e a sociedade civil em geral, bem como o sistema de saude,  para manutenção das relações sociais necessárias a acumulação do capital através  de estratégias pertinentes a cada momento histórico.
“... para cobrir os vácuos que, na previdência e serviços sociais e assistenciais, deixa este novo Estado minimizado na área social, parcelas importantes das respostas à “questão social” são privatizadas e transferidas ao mercado  (quando lucrativas) e à “sociedade civil” ou terceiro setor  (quando  deficitária), que vende ou fornece “gratuitamente” os serviços sociais.” (MONTAÑO, 2011, pg 03).

Boschetti, 2008, salienta que a ilusão da globalização garante igualdade de acesso a todos os países aos direitos sócias como o trabalho e a democracia ocasionando perdas das particularidades nacionais e regionais e impondo padrões e normas  dos países desenvolvidos  camuflando realidades desarticulando as lutas sociais.
Fazendo um paralelo com a atuação do assistente social no sistema de saúde, área que concentra um grande quantitativo profissional, o exercício pautado pela ética e comprometimento político e técnico, articulado com os movimentos sociais em defesa de uma sociedade emancipada na realidade do Brasil é condição essencial para ampliação dos direitos sociais universais e de qualidade. Evitando assim, o que Moñtano afirma como a lógica crescente de que os “[...] serviços estatais para pobres” são “pobres serviços estatais”.
Os países apresentados no filme que dispõem de um sistema universal de saúde têm como filosofia, políticas sociais públicas que possibilitam cobertura universal  a toda a população. Garantindo dentre outros o acesso a educação de qualidade que possibilita o reconhecimento e a participação consciente da sociedade civil  enquanto sujeitos de direitos.
Moore faz uma comparação do Sistema de Saúde Americano com o Sistemas de Saúde da Inglaterra, Canadá, França e Cuba países onde a população tem acesso universal, igualitário independente de contribuição previa, ou seja, sem os ditames do capital nas palavras de Amélia Cohn  “... deslocar o enfoque das políticas sociais do eixo da necessidade para o da cidadania.”
O sistema capitalista direciona cotidianamente os indivíduos, instituições e a sociedade civil em geral para manutenção das relações sociais necessárias a acumulação do capital através de estratégias pertinentes a cada momento histórico, cumprindo o seu papel de expressar os interesses hegemônicos de manutenção de produção e reprodução da força de trabalho.
Tal realidade pode ser verificada pelos motivos apresentados no filme para recusa de inclusão de novos usuários ou garantia de acesso a tratamentos nos planos de saúde vão desde avaliação da massa corpórea até doenças pré existentes  ou supostamente pré existentes.
A maximização dos lucros em detrimento da ética profissional onde os médicos são valorizados e recompensados pela economia que fazem dos recursos ao invés das vidas que salvam ou da qualidade de vida que proporciona. 
            A cooptação de representantes dos interesses coletivos ocorrem através do pagamento aos profissionais de saúde de benefícios e salários milionários pela empresas de plano de saúde e da indústria farmacêutica, bem como, aos representantes do executivo, no filme exemplificado por Hillary Clinton que de representante de um sistema público universal de saúde  passou a representante dos planos privados de saúde.
Na Bahia, no que tange a política de medicamento, conforme a experiência profissional de uma das autoras, que vivencia o crescimento da judialização no acesso as medicamento de alto e médio custo em decorrência da ausência dos mesmos nas relações Município, Estado e União. Ou ainda, por alguns deles serem fornecidos apenas para algumas patologias especificas. No entanto, é pertinente salientar que a influencia da lucrativa industria farmacêutica direciona a prescrição medica para determinadas marcas, desrespeitando a Lei do Generico; os medicamentos similares, como também outras substancias com a mesma ação farmacológica que faze parte da padronização do Sistema Único de Saúde – SUS.
Em paralelo ao trecho do filme em que retrata a experiência de uma profissional de saude que atuou no salvamento do episodio do “11 de setembro”, onde contraiu uma doença respiratória, a qual não teve acesso ao tratamento por parte da sua nação. Sendo assim, aceitou participar como uma das protagonistas deste filme, sendo levada ate Cuba, onde teve acesso aos medicamentos garantidos por este governo.  
 “O Estado não é um instrumento de poder que pode ser repartido entre as classes. Enquanto elemento de coesão, o Estado se apresenta como representante da unidade política do “povo-nação” (Gomes e Coutinho, 2008, pg 02).
           
A mídia como um instrumento decisivo para a constituição da hegemonia do capital utilizando-se de inúmeras estratégias culturais e ideológicas para garantir o consentimento e a legitimação de políticas organizadas para a rentabilidade do capital ao invés de atender as necessidades sociais da maioria da população. O filme por sua vez, fez o caminho inverso desmontando a sensibilidade do autor que contribuiu para a efetivação de políticas publicas universais.
 O trabalho profissional é sem dúvida, a mais importante mediação para o alcance dos direitos sociais efetivados, aqui dando ênfase na saúde e, no direito a fala, expressado pela produção de um filme que retrata as angustias, ineficiência e ingerência de um sistema falido cujo único objetivo é manter vigente o capitalismo.
Todavia, é mister que a sociedade civil organizada se utilize de recursos da mídia, a exemplo do filme citado aqui, para que se tenha a implementação de uma política de recursos humanos que viabilize o ingresso continuo de pessoas competentes e qualificadas para o exercício da função pública  onde as pessoas e organizações sejam consideradas na efetivação de mudanças que acarretem em transformação social.
Do mesmo modo, o Serviço Social se firma como uma profissão que atua na formulação, planejamento e implantação de políticas públicas, neste momento dando ênfase na saúde, tendo como grande desafio o posicionamento critico em defesa dos direitos sociais, fortalecendo o projeto ético político da profissão.
Não obstante, o presente trabalho pretende contribuir para instigar novas indagações para o desenvolvimento de uma pratica social no âmbito da saúde que aprofunde o conhecimento sobre o assunto abordado, continuando a preencher as lacunas existentes e garantindo os direitos sociais.

REFERENCIAS

BEHRING, Elaine Rossetti.   As novas configurações do Estado e da Sociedade Civil no contexto da crise do capital.CFESS/ABEPSS/CEAD/UnB.Capacitação em Serviço Social e Política Social, Brasília,2009.

BOSCHETTI, Ivanete.O Serviço Social e a luta por trabalho, direitos e  democracia no mundo globalizado.2008;

GOMES, Ilse  e COUTINHO, Joana A. Estado, movimentos sociais e ONGs na era do neoliberalismo, 2008. Revista Espaço Acadêmico, nº89, out. http: //WWW.espacoacademico.com.br/089/89gomes Coutinho.pdf

MONTAÑO. Carlo E.O projeto neoliberal de resposta à “questão social” e a funcionalidade do “terceiro setor”. 

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