E se a morte fizesse greveº°°

A morte nos revela sentimentos distintos, obscuros, suaves e também agressivos. Nos proporciona experiências jamais vividas, imaginadas ou sentidas. É um mal (ou bem) plural, igualitário porém, nem sempre justo. É despida de preconceito de raça, género, classe ou etnia, ela esta para todos assim como Deus também está. Sorrateira ou no susto, no inicio ou no fim, se propõe a algo contraditoriamente eterno entre seres humanos.
Talvez por isso levo-me a imaginar a greve da morte. Como seria o equilíbrio entre a vida e o silêncio? Seria manter o Sol sem a Lua ou dia sem a noite, o doce sem o salgado, eu sem você, meu coração sem tuas lembranças?
E se a morte fizesse greve o que seriam das lembranças? O que seria da saudade, da falta do cheiro e daquela gargalhada que só ela sabia dar? Como seria a falta do aconchego no colinho, do olhar tranquilo já pintados de azul pelo tempo...
O que seria do coração sem a saudade de um beijo de bênção na mão direita? Se a morte não existisse, o que seriam dos insistentes sonhos cotidianos que tem você como protagonista nas noites de solidão, onde só tua lembrança me faz bem... E o que seria daquela vontade sadia e gostosa de querer te ver e te sentir, beijar tua testa só mais uma vez, uma única vez que seja... Doce quimera!
Não obstante, se a morte fizesse greve a natalidade extinguiria o planeta... Filas nos bancos triplicadas, transtorno no transporte urbano. Insuficiência no sistema da educação e da saúde. A camada de ozónio não resistiria. As florestas devastadas dariam lugar a selvas de pedra para abrigar o tão imenso contingente. Nas praias "o caos em lixo". Na economia "competição selvagem". Na politica "a barbárie". O mundo não suportaria.
Maldita morte que leva de mim aquilo a que tanto amo, aquela em quem tanto me abriguei, em quem tanto confiei, meu exemplo de vida, minha filosofia... Minha "vozinha" de voz firme, expressão doce... Lembranças de um passado confortável, de fins de semana em família, da famosa feijoada domigueira com gostinho de "quero mais". Uma historia de vida para contar.
Maldita morte que põe fim numa relação de amor puro, verdadeiro, de sangue e de alma... Que delibera nostalgia, que inflama o coração, transborda lágrimas, supera emoções. Maldita morte, eu suplico, faça greve.
E se a maldita morte me ouvisse, se ela realmente fizesse greve, o que seria da vida? O que seria do mundo? Onde se esconderia o equilíbrio natural das coisas? E as filas nos bancos, o transporte urbano, a camada de ozónio, a super natalidade, as praias... o que seria da saudade? E se a morte, realmente fizesse greve... O que seriam dos meros mortais humanos como nós? Deuses, eu diria. Seriamos paradoxalmente, uma super população de deuses autodestrutivos, capazes de tudo, menos de sentir saudade. Bendita morte.

4 comentários:

  1. Nesse momento me invadem indagações filosoficas sobre o viver... Belo texto!

    Cida*

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  2. Muitíssimo interessante.... vc precisa entrar em contato com o espiritismo, urgente! Assim vai entender sobre a Morte e a ressureição...
    Filosoficamente tb interessante...
    Bela visão...
    Bjus!
    Dinda (Célia)

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  3. Viver, morrer e sentir... Há algo mais?

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  4. Paradigmas existem para serem quebrados.
    Sua reflexão convida a uma quebra de paradigma.
    Abs.

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